terça-feira, 6 de julho de 2021

Caress every ache (m)

 "E, aquele

Que não morou nunca em seus próprios abismos

Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas 

Não foi marcado. Não será exposto

Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema."

Manoel de Barros 


"(...)Mas as coisas findas,

Muito mais que lindas,

Essas ficarão."

Carlos Drummond de Andrade


Julgo perdido

O já tão familiar 

Perene [acaso]

Tudo

resta

O que resta?

-Nada.

Saber-me de opacos abismos

Que me abriste nos pés...

tombo, sem sentido.

Não me furto de pensar em ti

A cada golpe de raio solar

A cada ciclo lunar que atravessa as paredes

E penetra o difuso silêncio;

Se desenha então eternidade.


-E o que resta?

-Tudo.


When I try to grasp any feeling left,

I realize it was all worthwhile.


Loving memory

My prince of key


06/07/2021




quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Fogo fátuo

"Country roads,
Take me home
To the place
I belong (...)"

Céu de nuvens escarlates
Lá, canto as cinzas de minha devoção:
-Onde antes fulgurava certa luz,
Nada
Além de um vago
Sopro
No infinito
Qual vento nas planícies
Sentes?
As cerejeiras cultivadas
Para enfeitar-te os pensamentos
Secando na apatia
Dos amanhãs.
Não protesto;
Não há infâmia
Que o frio corte-me as retinas;
Verter ácido de lágrimas
Em meu rosto desértico

[que esse choro convulsivo expurgue de mim todo o desalento]

Big my secret (the scent of love)

"Through the warmest cord of care
Your love was sent to me
I'm not sure what to do with it
or where to put it (...)"

Quantos sóis se toma
Até separar
Todo o joio
Do trigo?
Paga a pena?
É só a ânsia de ter tuas mãos
Me esgotando o espírito
É uma dor sublime
Arrebatando o peito
Quase uma agonia
Qualquer coisa de divino
De redenção e alumbramento
Qual!...seria eu digna?
É a avidez de minhas mãos
A cingir-te o rosto, os braços
Como para sentir
Que és real;
Que são reais teus olhos
Me esvaziando a turva mente
...
E nada resta.

22/08/19 - M

domingo, 30 de setembro de 2018

Domínio

É inútil ressignificar
Nas retinas, punhos
Ou palavras
A explosão
de nossas furtivas sincronias.
Tolos desvios.
O que te atravessa a derme
E tenta penetrar
A atmosfera
Onde não alcanço
Sedimenta-se,
Revela-te.
Tua maldita língua
Não oculta o que você,
(In)consciente,
Escolhe a todo instante confessar
Pelo fôlego
Pelo peito
Pelos brios
Num átimo
te escapa
Fluida, eu capturo, e absorvo
Inteiriça

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Queda livre

"[...]If my wings
should fail me, Lord
Please meet me
With another pair
So I can die easy [...]"

Led Zeppelin - In my time of dying

A porcelana espelhava o carmim
Da medíocre existência
Vazando dos punhos
Ralo abaixo
O gozar de dias arrastados
Encerrado no chumbo frio
Dos olhos
Intermitente, a meia luz
Soluçava sobre o inerte peito
Da alma enternecida,
Arrebatada pela carne viva
Das chagas que agora
Jazem no ocre vazio
Da memória

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Frugal

Me enlevo na grandeza
De padecer em disformes alumbramentos
Não me interessa
Decifrar que enigma
semeaste-me no juízo.
Perecível é o sentimento
que apropria lógicas.
Antes:
Desmedida
Naufrago no oco
de suas pupilas.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Acaso

Qual a tristeza
dos pés que, na peleja
de mascarar imensidões,
correm oblíquos
Angulares
Debilmente, metem nas calçadas
sangrias primaveris
Sufocam o entrecortar
De fugídios olhares